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terça-feira, 28 de julho de 2009

Teimosia, persistência e obstinação

A situação do senador José Sarney (PMDB) como presidente do Senado a cada minuto que passa fica mais insustentável. Diversas são as acusações sobre ele. Entre algumas destacam-se irregularidades administrativas, nepotismo e outras coisas que nascem como chuchu na cerca.
A mais nova empreitada da oposição contra Sarney firma-se diante a sua conversa com seu filho onde eles falam sobre o pedido da contratação do namorado de sua neta. No bate-papo eles afirmam que irão pedir ao empregador, ops quero dizer, ex-diretor do Senado Agaciel Maia para agilizar essa importante admissão.

Em 28 de julho de 2009, os Tucanos pediram a cassação de Sarney. Mais que a metade da bancada dos senadores petista, por incrível que parece apóiam o PSDB - ou melhor-, são contra o presidente da casa.

Vocês lembram daqueles filmes do Rock Balboa que ele apanha, apanha e apanha, mas no final sempre consegue vencer seus adversários? Será que o político-escritor brasileiro membro da ABL se inspira nessa película estadunidense e vencerá no último round?

Outro fato interessantíssimo é o fato de Lula defender Sarney. Em uma atitude claramente eleitoreira, as pessoas mais ligadas à política entendem a ação presidencial agora frente ao apoio dos pmdebista para as próximas eleições. Todavia, até quando isso será sustentável?

Diante a obstinação de Sarney em continuar a frente do comando do Senado e a persistência de Lula em apóiá-lo, não sei qual atitude cairá primeiro, mas ambos podiam cantar uma estrofe da música de Raul Seixas: ...”Minha teimosia brava de guerreiro...”

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O amigo da onça

Fazia tempo que meu coração não ficava apertado. No auge dos meus 26 anos, acompanho a tragetória de Lula desde dos tempos em que ele era companheiro até se tornar presidente.

Lembro que em 89 meus tios, minha mãe, professores, a esquerda e artistas de Itapetininga vibraram com a possibilidade de termos no comando do Brasil alguém oriundo do povo. Minha mãe cantava bem alto “...Lula lá, brilha uma estrela...”. Como aprendi a admirar essa pessoa e colocar a estrela vermelha no peito.

Apesar de ter passado alguns anos da derrota de Lula diante FHC, ao ler o livro do Do Golpe ao Planalto do jornalista Ricardo Kotscho, entendi o tramite politico que levou o Partido dos Trabalhadores a derrota e calafrios, novamente me deram a entender essa segunda perda.

Lembro até hoje a vitória do Presidente Lula. Não me recordo bem o dia, mas recordo claramente das lágrimas caídas de meus olhos diante a vitória do povo.

Denuncias, mensalão, envolvimento de lobistas, a queda de importantes ministros , apoio a velhos caciques e a perda da ética partidária foram contra o PT. Como ex-militante, não deixei que as coisas afetassem meu amor diante a grandiosidade deste partido, todavia os dois últimos meses foram terríveis.

Elogiável é o trabalho deste governo nas questões sociais. Diante a economia, até o economista capitalista mais pessimista reconhece o bom manejo do governo no setor, na saúde e na educação o governo ficou muito aquém das promessas. Mas, ninguém é perfeito.

A facada em meu coração dado por Lula foi quando ele sancionou a MP 458/09 (
http://www.leidireto.com.br/medidaprovisoria-458.html ), que possibilotou entre os vários absurdos a legalização de terras amazonicas para grilheiros. Como isso não me fez bem, a regularização dessas terras apenas aumentará exploração direta e desenfreada de importantes trechos da Amôzonia.

"Quero fazer justiça ao senador Collor e ao senador Renan, que têm dado sustentação ao governo em seu trabalho no Senado.", Luis Inácio Lula da Silva.

Depois disso pra felicidade de uma amiga chamada Nayana Rezende, eu resolvi deixar de ser petista, mas não deixei de gostar do Lula.

Mas agora foi o apogéu da burrice da governabilidade. Aliança com Fernando Collor de Melo, pelo amor de Deus. Fiquei totalmente desapontado com essa parceria, isto é, não vou nem comentar o apoio ao farizeu José Sarney.

Dizem que quando estamos no inferno a melhor coisa é abraçarmos o capeta, mas caminhando por águas brancas, o Lula tinha que abraçar justo Collor.

Ai ai.

Peço desculpas ao capeta.

Mauricio Hermann

terça-feira, 14 de julho de 2009

Jornalistas sem diploma

“A profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia nesse sentido por não implicar tais riscos não poderia exigir um diploma para exercer a profissão”. Gilmar Mendes, presidente STF.

Em junho o Supremo Tribunal Federal (STF) revogou a obrigatoriedade do diploma universitário para exercício da função de jornalista no Brasil. Distintas foram às opiniões entre as entidades de comunicação e representantes da classe sobre a decisão do Supremo. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádios e Televisão (Abert) foram favoráveis à decisão. Em contrapartida, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI), refutaram a decisão.

Como estudante de jornalista penso diferente de Mendes que comparou o labor jornalístico ao oficio de cozinheiro. Em minha opinião a importância acadêmica para formação de quem escreve na mídia é necessária porque um estudo específico sobre a profissão, além de desmistificar a chamada “liberdade de expressão e de imprensa” que o não-jornalista acha que existe dentro deste ambiente, qualifica essa categoria diante a responsabilidade que é com mídia.

O curso, teoricamente, mostra as diretrizes da formação da base informativa e os meandros para sua construção. Não que um especialista não saiba o que acontece por de trás das páginas dos jornais e da mesa de William Bonner, mas a alguns destes, por não ter um estudo peculiar sobre o assunto, não imagina a magnificência ameaçadora da arma que é produzir informação.

Vale salientar que, tal efeito de anulação da lei, tanto criticado pelas organizações de jornalistas foi revogado também pelo fraco, fragmentado e individualismo oriundo dessa categoria. Talvez, se o sindicalismo dessa classe fosse mais expressivo, a resultante seria outra.

E será que alguém pode responder uma perguntar:

Quem ganha com tal decisão, a democracia ou uma minoria de déspotas esclarecidos donos dos veículos de comunicação, por quê?

Jornalistas a mercê dos barões da comunicação.

Mauricio Hermann

O lápis e a borracha


Em certa noite de outono, quando dormia deitado em uma rede posta em frente a minha casa, vi em meus sonhos uma fada se aproximar. Ao se aproximar, a pequena criatura trazia em sua mão direita um lápis e na esquerda uma borracha.

Ela pousou em meus ombros e devagarzinho com sua voz branda disse:

- Esses objetos são mágicos. Com eles nas mãos basta você imaginar um trecho da história de sua vida. Com a borracha você o apaga e com lápis você o reescreve.

Nesta noite, em minha consciência, a realidade se sobrepôs ao holístico e apenas virei na rede pra continuar a sonhar.

Pela manhã, quando abri os olhos - no canto do galo das 6:00 hrs -, o sol ainda estava preguiçoso e eu ainda com remela nos cílios dei aquela tradicional “espixadinha” e percebi que na guimba do raio solar que tangenciava a rede e o vaso de tulipas, encontrava – se um lápis e uma borracha.

Por um alguns instantes não consegui compreender se estava acordado ou sonhando. Abaixei-me diante o vaso, peguei os dois objetos e sai a esmo diante o caminho que levava ao Velho Chico.

Por horas observei o caudaloso e barrento rio.

Ao chegar em casa resolvi saber se conseguiria mudar mesmo a minha história.

Primeiro lembrei de um episódio no qual um vizinho famoso por suas inverdades disse que seu piá estava doente e ele pedia dinheiro apenas para curar as enfermidades de seu primogênito. Cético, não ajudei e depois de alguns meses o bairro veio, a saber, as dificuldades e o quase óbito do menino que ficou com sérias seqüelas por causa da doença.

Passei a borracha quando estas imagens em minha mente surgiram. Reescrevi o enredo. E, ao caminhar pela cidade vi no galho mais alto do abacateiro o menino que ontem era doente.

Cismado com ocorrido, fui bar do Tororó e tomei duas da que matou o guarda e perguntei para o Anael:

- E aquele menino em cima do abateiro.

- Ara ! Num ta enxergando! É o filho do Zé Mentiroso. Este - desde piazinho -, correninho pelos campos, roubando manga, subindo em árvores. Criança esperta.

Pedi mais uma pinga e fui pra casa. Almocei e fui dormir em uma árvore perto das águas do Opará.

Quando acordei peguei os objetos mágicos e resolvi tentar novamente.

Imaginei uma cena onde certa vez um casal viajante me pediu comida. Disse a eles que daria se me ajudassem a limpar a aluvião que tinha invadido o velho paiol de madeira. Eles se negaram e em um estado de fúria xinguei a mãe deles e os escorracei de meu sitio.

Depois de certo tempo percebi como minha atitude foi egoísta, quiçá não havia mais tempo para mudar esse quadro e mesmo rezando 09 Pai Nosso, 11 Ave Maria e 82 Salve Rainha não obtive o perdão.

Peguei a borracha e apaguei todo o ocorrido deste dia ébrio. Com lápis reescrevi esta cena e adquiri o perdão.

Num instante, um alívio tomou conta da minha áurea.

Era dia de Folia de Reis, vesti meu termo, um termo muito velho que meu bisavô, deixou pro meu avô, meu avô deixou pro meu pai e o meu pai deixou pra mim. Amarelo do tempo e do pó sertanejo, esta antiga veste só deve ser usado nesta data e pelas contas que passaram de geração em geração, essa é centésima vigésima sétima vez de uso do terno bordô.

A rebeca, a viola e a sanfona anunciavam a chegada do cortejo. De longe conseguia ver abrindo o cortejo Vergílio, um crioulo de mais de 2 m de altura que há anos trazia um estandarte com a imagem do menino Jesus onde em sua volta estavam os Três Reis Magros.

Muitos doces, muita comida, muitos fogos e muita dança. Desci a velha rua do moinho pra sentar na escadaria da igreja e fumar um sabiazinho. De repente, em minha vista apareceu uma menina cheinha de sardas no rosto, pele clara e cabelo ferrugem. Ela vestia sandalhas azuis e um vestido branco todo bordado no babado com uma espécie de mandala indígena. Meu zoinho estalou e tum-tum-tum rapidamente fez meu coração.

Na mesma hora fui no sítio do velho seu Olavo e roubei uma mãozada de gardênias brancas para levar a minha amada.

Quando voltei, à praça ainda estava mais cheia, mas ao me virar em sentido a imagem de Padinho Cícero, vi aqueles olhos de jabuticabas se cruzarem aos meus e, ao ver aquele sorriso branquinho, como as nuvens da mirada daserra fui em sua direção. Foi o tempo dela me abraçar, pegar em uma mãos as flores e na outra minha mão, me puxar para dançar e correr por toda Folia de Reis até desembocarmos no São Francisco.

Como nos deliciamos com Jambo e nos melecamos com açaí. Imitava o barulho do Pássaro Bigodinho, do Cambacica e do Caboclinho Verde de Cabeça Marrom aos ouvidos de Jasmin e embaixo da Aroeira Preta do Sertão, ela ria e me beijava o pescoço.

A tarde caia, e como minha amada vinha de um vilarejo próximo, ela precisava ir embora. Quando voltamos e chegamos próximo à barraca de quitutes regionais, uma garrucha disparou. Todos corriam mulheres procuravam suas crianças e as crianças sem as mães começaram a chorar.

Senti as mãos de Jasmin cingirem as minhas com muita força e descobri que por acaso a bala havia atingido sua costa.

A partir desse ponto, a seqüência clara da história, com a borracha apaguei e com o lápis reescrevi o ocorrido.

Vi sua presença a menos de um quarto de léguas de mim. Jasmin me apareceu com a mesma roupa que estava na Festa de Reis. Corri ao seu encontro de seus braços, nos beijamos, cantamos e nos amamos debaixo da chuva até a chegada do primeiro sabia.

Adormeci e quando acordei minha amada não estava mais ao lado. Fiquei desesperado, gritei seu nome por todo bosque. A cavalo, subi e desci as veredas da floresta, vasculhei pela nuvens para ver se ela estava a voar e por seguinte, chorei, chorei e chorei.

Depois de tantas lágrimas como uma criança, adormeci e em meus sonhos, a pequena fada, mas agora mais cintilante, reapareceu e me perguntou:

- Por que chorais tanto?

Aos soluços contei toda história. A ânsia e a dor se misturaram com inconformismo revivido. As cicatrizes se abriram e saudade de Jasmin, aos poucos, tomou contava do meu ser.

A fada observou toda minha mutação astral. E quando eu desesperado pergunta a ela por que, a fada voou a frente de minhas retinas e disse:

- Os objetos mágicos mudam a história, mas jamais podem alterar o destino.






Contado por um caboclo



Adaptação Mauricio Hermann